Mas do fundo da casa íntima
aproximava-se uma lanterna:
uma lanterna que os troncos
riscavam
e às vezes anulavam,
uma lanterna de papel,
que tinha a forma dos tambores e
a cor da Lua.
Trazia-a um homem alto.
Não lhe vi o rosto,
porque me cegava a luz.
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O jardim dos caminhos que se bifurcam
Jorge Luis Borges
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à meia-luz, no sono rarefeito deste licor, escrevo-te de cigarro nos dedos, atropelando as páginas embriagadas. é cirúrgico o amor que se instala por dentro dos lençóis, toda a cama a céu aberto como um peito. adormeceste assim, insinuando-te como uma boca junto das minhas palavras mais fechadas. não sei se esta febre é rasgada dos lábios que se colam à narrativa do teu corpo ou se bebo se não com todo o medo. acendo outro cigarro porque a manhã ainda tarda neste cinzeiro antigo. Fumo muito quando dormes assim, como um incêndio carpindo as faúlhas do tempo.
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6 comentários:
A riscar um arco
íris
por de dentro dos teus olhos
Um silêncio
De cal.
Um giz
a riscar.
Com o correr dos anos, observei que a beleza, tal como
a felicidade, é frequente. Não se passa um dia em que não
estejamos, um instante, no paraíso
Jorge Luís Borges
(hoje, o paraíso, foi aqui)
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são (demasiado) concretos os amores cirúrgicos.
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e sem anestesia magoam muito mais.
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que maravilha.
gosto muito da tua escrita. ferve!
como sempre.. um incéndio por estes lados .
:)
beijos
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