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a mão direita sobre o coração,
esquerdo.
o calor do homem deitado na pleura da cama, dividida,
aberta nos dois lados da cabeceira,
como uma boca que respira.
a cama rasgada ao centro, fetal,
como o primeiro gesto que abraça o coração, depois do choro.
o quarto que é um umbigo onde o tempo foi concebido assim,
sobre o leite derramado.
primordial, essa imagem que assalta o crânio na lenta dilatação da luz:
esquerdo.
o calor do homem deitado na pleura da cama, dividida,
aberta nos dois lados da cabeceira,
como uma boca que respira.
a cama rasgada ao centro, fetal,
como o primeiro gesto que abraça o coração, depois do choro.
o quarto que é um umbigo onde o tempo foi concebido assim,
sobre o leite derramado.
primordial, essa imagem que assalta o crânio na lenta dilatação da luz:
egografia .
a mão direita sobre o coração,
esquecido.
outro homem que tem um livro no peito, agora,
a fazer-se sangue;
a primeira frase
[hoje venho dizer-te que morreste e velo o teu corpo no meu leito]
dentro da memória,
a fazer-se carne.
é irreparável a violação da pele numa frase reescrita pelo sono:
tornada luminosa e fictícia.
a outra mão? esquerda,
cobre o sexo em que a cama húmida se desdobra como um manto.
a inquietude espessa que é um assombro de intimidade
quieta e irrecusável no seu colo.
a cama alarga-se para que, quem está,
possa entrar devagar, sem o prurido do medo.
e agora? as mãos alinham-se assim,
em dois?
os corpos colidem, infectados pelo afecto sibilante das línguas.
tocam-se à justa medida de um segredo:
as mãos direitas sobre os corações, esquerdos,
esquecidos.
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itálico de mário cesariny, do capítulo da devolução
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4 comentários:
gostava de te endereçar um convite mas não consigo achar a tua morada de e-mail
se puderes envia-me uma mensagem
Dallo stesso luogo
Come l’acqua del fiume si muove
contro corrente vicino alla riva
si disperde dentro fili d’erba
lontana dal suo centro
la memoria fa un cammino a ritroso
dove una materia incerta
torna con molti frammenti.
Desde um mesmo lugar
Assim como a água do rio se move
a contracorrente perto da margem
se perde entre filamentos de ervas
afastada do seu centro
a memória faz um caminho ao contrário
onde uma matéria incerta
regressa com muitos fragmentos.
(Trad. dedicada à Marta e ao Nuno, obreiros da memória e da poesia.)
Me acerco al agua Bebiendo tu beso
La luz de tu cara La luz de tu cuerpo
:):)
Si el hombre pudiera decir lo que ama,
Si el hombre pudiera levantar su amor por el cielo
Como una nube en la luz;
Si como muros que se derrumban,
Para saludar la verdad erguida en medio,
Pudiera derrumbar su cuerpo, dejando sólo la verdad de su amor,
La verdad de sí mismo,
Que no se llama gloria, fortuna o ambición,
Sino amor o deseo,
Yo sería aquel que imaginaba;
Aquel que con su lengua, sus ojos y sus manos
Proclama ante los hombres la verdad ignorada,
La verdad de su amor verdadero.
Libertad no conozco sino la libertad de estar preso en alguien
Cuyo nombre no puedo oír sin escalofrío;
Alguien por quien me olvido de esta existencia mezquina
Por quien el día y la noche son para mí lo que quiera,
Y mi cuerpo y espíritu flotan en su cuerpo y espíritu
Como leños perdidos que el mar anega o levanta
Libremente, con la libertad del amor,
La única libertad que me exalta,
La única libertad por que muero.
Tú justificas mi existencia:
Si no te conozco, no he vivido;
Si muero sin conocerte, no muero, porque no he vivido."
(poema de Los placeres prohibidos, Luis Cernuda)
Dou-vos este poema, com toda a minha dedicação. um beijo aos dois.
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